Dirigido: Kleber Mendonça Filho
Kleber Mendonça Filho cria uma trama “Recife Frio” distópica e constrangedoramente visando os dias atuais. O curta é um
falso documentário jornalístico que registra como, do dia
para a noite, a mudança climática transforma as dinâmicas da
cidade e da vida das pessoas. Com créditos iniciais, trilha
sonora que se assemelha há um “WESTERN” fica bem sugestivo o que vamos assistir na próxima meia hora de filme. O filme
começa com uma narração sob essa estranha premissa: um
meteorito cai sobre a praia de Maria Farinha, em Recife,
matando alguns, pouco tempo depois a cidade de Recife sofre
com uma mudança climática grotesca e deixa de ser uma bela
cidade tropical de lindas praias para conviver com eternos dias nublados, frios e chuvosos. Em pouco tempo de filme
Kleber expõe a implacabilidade dos eventos nas relações
urbanas. Gradativamente, vendedores ambulantes e turismo são
prejudicados, a especulação imobiliária vê os negócios
virarem de cabeça para baixo, alguns se refugiam-se em shopping center enquanto moradores de rua morrem de
hipotermia e, por ter menos ventilação, o quartinho da
empregada é entregue ao filho da família de classe média
alta, que não pode passar frio. Tanto as relações pessoais quanto as contradições sociais (de classe, raça e gênero) são
afetadas – e agravadas – diretamente por algo que antes
parecia muito abstrato, mas que na prática é catastrófico.
Kleber Mendonça constrói uma narrativa utópica, mas bem
genuíno com temas atuais, a desigualdade social, escravidão, o aquecimento global, cultura, “Recife frio” é uma espécie de
ensaio sobre nossa condição humana quando é colocada em
situação de caos.
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