Dirigido por: Glauber Rocha
Manuel é um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa Rosa. O casal se junta aos seguidores do beato Sebastião, que promete o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritualístico. Porém ao presenciar a morte de uma criança Rosa mata o beato. Simultaneamente Antônio das Mortes, um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina os seguidores do beato. Fazendo assim Manuel e rosa fugir novamente e se juntando aos cangaceiros. Não é um filme fácil, de fato, porém, não tem como dizer toda ambiguidade existente dentro dele, eu diria três palavras absolutas: Insano, Desumano, Violento. Não necessariamente nessa ordem. Não seria o suficiente explicar a maior epopeia do cinema brasileiro tão superficial assim. Eu abordarei três pontos marcantes dessa obra.
1: “Deus e o Diabo na terra do sol” é dividido em duas partes. A parte da revolta de Manuel com o coronel fazendo ele fugir com sua esposa e encontrando com o Sebastião e passando a segui-lo com esperança de salvação, mas tudo que Manuel encontrou foi loucura e desespero, aponto de deixar sua esposa de lado e participar de um sacrifício de um bebê.
2: Antônio das Mortes, um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina todos os fiéis de Sebastião, é a grande referência ao filme, “O encouraçado potemkin” de Sergei M. Eisenstein. Enquanto a edição dava seu toque de perfeição fazendo que apenas um atirador passasse a impressão que estava em maior número. Deixando apenas Manuel e Rosa vivos. E assim a primeira parte do filme se fecha. A partir desse momento, Manuel e rosa vaga pelo sertão acompanhado pela trilha sonora visceral que dita o rumo da narrativa como acontece em todo o filme. Mais adiante eles vão deparar com um pequeno bando de cangaceiros liderados pelo Corisco cangaceiro do remanescente de Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião que foi morte pelos “Macacos” (polícia).
3: Manuel se junta ao bando de Corisco e se torna parte deles sendo batizado com o nome de “Satanás”. Com fim próximo, os cangaceiros encurralados pelos “Macacos” (Polícia) e pelo matador de cangaceiros Antônio das mortes. Corisco doa toda sua fortuna para seus companheiros. O final clássico, o duelo de Antônio das mortes e Corisco ao som de uma trilha sonora arrebatadora. Antônio das mortes saindo vitorioso e em outra parte do sertão Manuel e Rosa fugindo dos policiais, fechando com um plano sequência do mar. Simplesmente INCRÍVEL, o final com aquela música, é perfeita, meu deus como eu amo a cultura do meu país nordeste apesar de não conhecer muito, mas o pouco que conheço é perfeito.
Considerações finais. O filme pode chegar a causar uma sensação de estranheza em quem o assiste sem levar em consideração o contexto em que foi produzido, a sua temática, significância para o cinema brasileiro, etc (um desavisado) eu fui um deles.
O realismo que é passado pela narrativa e direção de arte, deixa o espectador com a alma em uma das mãos e na outra o átomo da sua existência.
É filme atemporal, riquíssima em conteúdo e detalhes. Fé, justiça e destino são temas inesgotáveis. Glauber Rocha consegue abordar o tema a partir de uma perspectiva original, fiel a cultura brasileira.
Glauber é com certeza um dos maiores artistas que esse país já viu. Unindo o Neorrealismo, Western em um único filme. Esse filme nos apresenta uma das experiências mais viscerais e talentosas do cinema. Obra de primeira categoria!
Há maldade no santo, há o bem na maldade.
Comments